segunda-feira, 14 de maio de 2012

Campeonato Mundial - Terceiro dia

A terceira partida do Campeonato Mundial, retomada após um descanso no domingo, foi uma batalha fascinante que, contudo, acabou no mesmo resultado das anteriores. Após defrontar-se novamente com uma Gruenfeld, Anand abordou a posição de forma mais agressiva, e logo ficou claro que a partida seria bem mais animada do que as duas anteriores; isso se concretizou quando, numa posição com roques opostos, em que as estatísticas se mostravam bastante favoráveis às brancas, Gelfand desviou da teoria de até então com a novidade 16...e4, sacrificando um peão pelo ataque.

Embora a avaliação do computador mantivesse uma pequena vantagem para as brancas, a posição de Gelfand parecia promissora as brancas não conseguiam desenvolver sua ala do rei e sofriam pressão — e no lance 19 Anand decidiu trocar de damas — o que, de acordo com os GMs comentando a partida, levava a uma posição de empate. As coisas não correram tão simplesmente assim quando Gelfand cometeu alguns deslizes, o que sugeriu que poderia haver algo para as brancas. (Na entrevista, após o jogo, ele reconheceu que a posição "era perigosa" e que ele havia subestimado certos lances das brancas.) No entanto após trocarem-se todas as peças menores, surge uma posição na qual as brancas, apesar de seu peão extra passado em d6, não conseguem nada devido à grande atividade que as torres pretas desenvolvem em torno do rei branco exposto. Com o peão branco já a um passo da coroação, as pretas têm um empate fácil com torres na sétima em frente ao rei inimigo.

Ao acabar a partida, tendo concordado com o empate quando ficou óbvio que as pretas forçariam a repetição, Anand e Gelfand se dirigiram à sala da imprensa conversando amistosamente. É curioso notar o contraste com o último Campeonato Mundial, quando as relações entre os contendores se apresentavam bem mais tensas (principalmente da parte de Topalov) — em uma ocasião ambos até esqueceram do aperto de mãos antes da partida.

A coletiva de imprensa foi rápida. Ambos os jogadores esclareceram algumas variantes e responderam a perguntas gerais. Quando perguntaram a Anand em qual partida ele considerava que fora melhor de brancas, a primeira ou a terceira, ele respondeu que hoje "esteve mais perto" [de ganhar]. Ao fim da conferência foi feita uma daquelas "perguntas que não se fazem", que alguém sempre deixa escapar na hora errada, a respeito do restante do match:

— Bóris, você tem o maior número de partidas de brancas nos próximos jogos; você acha que esta primeira parte do match poderia ser a decisiva?

ao que ele, naturalmente, não deu resposta definida:

— Eu me mantenho fiel ao princípio, que muitas pessoas já conhecem, de apenas jogar cada partida individualmente, partida após partida; e não generalizá-las em partes do match.

Finalmente, embora tenha sido mais um empate, creio que se pode dizer que a partida foi a mais interessante até agora — tivemos uma posição dinâmica com roques opostos e, fato raro, Anand entrou em apuros de tempo (ele tinha 2 minutos no relógio quando acabou a partida). Com esta partida também parece ter ficado claro que Gelfand está seguro de sua Gruenfeld como uma de suas defesas principais, e não apenas como uma arma surpresa para a primeira partida, como especulavam alguns.

(por Alberto Becker Queiroz)

E aqui está a partida, que logo devemos prover com o comentário providenciado pelo ChessBase.

Um comentário:

  1. Ótimo texto. Faz a partida parecer emocionante até para quem não entende quase nada de xadrez! Lembra algumas descrições de batalhas da Segunda Guerra na "História dos EUA", de Morrison e Commager.

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